segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Padre Neves Critica Laranjas, Corrupção Eleitoral e Uso da Máquina Pública



Não quero generalizar nem maltratar ninguém. Mas também não gosto de ser maltratado. E, pelo que vejo, há quem não respeita ninguém e pensa só no seu proveito. Isso me indigna. 

Campanha eleitoral é tempo de autoelogios, de brilhantes discursos de quem não é gago... mas onde a verdade sai poluída de bocas bem falantes, onde se altera a lógica da sã convivência, onde se ridiculariza a honestidade, se enaltece a usura, se destrona o ser para canonizar o ter. 

Tem candidatos que dizem metade do que pensam e prometem o dobro do que podem. Eu diria: tempo de “conversa fiada”, de “papo furado”.  

Sou tentado a comparar campanhas eleitorais a peças de teatro em que candidatos fazem de atores. Só que não nos divertem. Eles, sim, se divertem conosco. Pensam o que querem, dizem o que calha, para depois fazer o que lhes apetece. Pessoas e estatísticas valem só pelo número. 

Promessas são confiadas à capacidade criatividade de cérebros especializados em invenção. A realidade é esquecida e pisada, pensando que a fome e o subdesenvolvimento dos pobres é apenas pequeno acidente de alguns miseráveis. 

A publicidade anuncia gente sabida, os melhores do mundo... mas ninguém se admirará se depressa passarem a ser piores que os mais péssimos. E quem nunca tomou partido perante graves situações do povo agora aparece como salva vidas. E que fazer? – Ao menos, devia haver vergonha! 

As autoridades municipais fazem valer sua influência promovendo reuniões em casas particulares para garantir votos aos aliados, nem que sejam desconhecidos por todos. E aí fica a máquina da administração pública usada indevida e perversamente. 

Toda a cidade sabe e comenta isso, só a justiça eleitoral local faz que o ignora. O que a Globo veio descobrir em Municípios vizinhos pressupõe uma falta de ética, um atrevimento tão arrogante que a todos espanta. E é afirmação corrente que isso acontece em todos os Municípios. 

Para quê as Câmaras Municipais que têm a função de fiscalizar? E os nossos vereadores será que desconhecem tudo isto? Por que calam? Mas, quando a Globo descobre algo de grave e o coloca no ar a nível nacional, será que o descoberto continuará encoberto?  

Adia-se eternamente a apuração dos fatos e a punição (que serviria de exemplo a muitos outros!) nunca acontecerá. Servirá para tornar mais conhecidos os infratores e mostrar que têm influência no tremendo esquema de corrupção existente.  

Mais valem quatro ou cinco votos que a verdade e o bem comum. Esses megalomaníacos acham-se um caso à parte, com substrato intocável. Fazem o que  bem entendem e o resto desaparece como fofoca. 

Isto é tratar o povo como imbecil, pisar a ética e tapar os olhos da população para prestigiar a roubalheira. É criar um andar superior para estes senhores e fazer do rés do chão, que é o povo, uma cloaca. 

Coisa indignante! E eu fico a pensar em tantos que apenas sobrevivem, a quem falta o pão, a alimentação, o trabalho e o bom resultado do seu esforço. Tudo isto pisado pela ganância de meia dúzia! Política não pode ser alfobre de problemas, amontoado de inutilidades, ambiente infetado pelo vírus da corrupção que impossibilita o desenvolvimento e o bem comum. E o nosso povo tem que aprender a ter dignidade e a não rastejar na subserviência. 

Gasta-se milhões em acessórios supérfluos e esquece-se o essencial!  Mas tudo isto de uma maneira tão descarada, tão atrevida, tão criminosa que só espanta quem tem responsabilidade social. 


Nos casos que agora vieram a público, alguns já foram presos. Mas os mandantes, os grandalhões, os que estão por trás de tudo e ficam com o lucro das arbitrariedades dos seus “laranjas”, onde estão? Andam por aí fingindo novos contratos, rindo e esfregando as mãos de contentes, porque ainda ninguém as algemou.

Do Boletim da Paróquia de Chapadinha

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